Pe. João Batista Cortona, osj
Querendo recolher todos os escritos do Pe. J.B. Cortona, apresentamos neste número duas notas descobertas no Arquivo da Congregação. A primeira, de 1920, coloca em luz a grande vida interior de Dom José Marello; a segunda, de outubro de 1921, fala das suas virtudes.
1. A vida de Dom Marello, nosso amadíssimo Fundador, foi uma vida toda interior por ele adquirida em longos anos de meditações e no exercício da mais sublime oração sob a guia daquele excelente Mestre de vida espiritual que foi Dom Savio, com o qual viveu por 13 anos como seu secretário. Somente o bom Deus conhece quais graças, quais favores divinos o Marello recebeu, quais ascensões tenha feito o seu espírito naqueles anos, tudo isto Dom de Deus. Nós sabemos somente que saboreou tanto as conversações com Deus que pôde dizer com S. Pedro: “Bonum est nos hic esse!” e teria querido retirar-se na solidão da Trapa para gozar de tais consolações por toda a vida. Os progressos que ele fez na virtude naqueles 13 anos não nos é dado nem mesmo descrever, porque ele procurou sempre, severamente, manter escondidos a todos os dons de Deus, conforme a sentença escritural que ele repetia freqüentemente também a nós: “Secretum meum mihi”.
(Notas 1920)
2. O nosso santo Fundador foi verdadeiramente um anjo de pureza. Se a castidade, segundo o sentimento de S. Ambrósio, S. Bernardo e outros, est vita angelorum, faz dos homens que a possuem outros-tantos anjos, nós podemos dizer isto com toda verdade do nosso santo Pai, o qual não só refulgiu por um Dom singularíssimo de castidade e foi modelo insigne desta virtude, mas buscou também inspirar o amor à castidade em todas as pessoas que por razão do seu ministério delas se aproximou, e, especialmente nos membros da nossa Congregação. Ele pode muito bem ser chamado de anjo, porque o foi verdadeiramente.
3. A fortaleza segundo Alberto Magno estabelece o intelecto no conhecimento de Deus, o coração no amor de Deus e do próximo, fortifica o ânimo para não deixar-se abater nas adversidades e ensoberbar-se na prosperidade, torna forte o coração para exercitar-se e estar longe do mal. Ora, o nosso bem-amado Pai, mediante a meditação constante das perfeições divinas estabeleceu o seu intelecto no conhecimento de Deus, e falava dos atributos divinos com uma eloquência que atraía verdadeiramente a Deus. Que diremos depois do seu amor a Deus e ao próximo? Toda a sua vida, especialmente sacerdotal, foi um exercício contínuo da sua sublime caridade. Deste amor, com o qual ardia o seu coração, nascia aquele zelo infatigável de fazer conhecer Deus e fazê-lo amar por mais pessoas possível. Ele não se deixou jamais abater pelas contrariedades que teve que encontrar no estabelecer a Congregação; na questão da Pequena Casa não quis seguir os conselhos de Mons. Bertagna, porque indicavam, na dissolução da questão, um caminho por demais cômodo, e, por isto, estimou que não pudesse vir de Deus.
4. À fortaleza demonstrada nos diversos casos da sua vida soube unir, com admirável união, a suavidade, colocando assim em prática o dito do Espírito Santo: fortiter et suaviter.
5. O nosso venerado Fundador apareceu verdadeiramente suscitado por Deus para dar princípio a uma Congregação que corresponde justamente às necessidades dos tempos, como pode atestar o favor incontrastado nos Sumos Pontífices e especialmente o favor encontrado nos Bispos. Todos consideram a nossa instituição como verdadeiramente providencial. Vós recordareis a nuvem prodigiosa que guiou o povo de Israel por tantos anos. O nosso bom Pai teve a assistência particularíssima do Espírito Santo, que o guiava nas suas dúvidas, que o protegia nas suas dificuldades e sobretudo o iluminava para conhecer o espírito pelo qual deviam ser guiados os seus filhos.
6. Da reta intenção deixou numerosos exemplos o nosso caro Pai; enquanto amou tanto a vida escondida e esforçou-se tanto para ocultar as suas obras, de modo que, escondidas aos homens, permanecessem conhecidas apenas por Deus, a quem unicamente buscava agradar.
7. O seu espírito conciliativo apareceu luminoso em todas as questões que teve que sustentar e, especialmente na última que lhe custou, pode-se dizer, a vida, porque apesar de todos os seus esforços para chegar a um ajuste equo com os superiores da Pequena Casa, nada conseguiu. Foi esta a pena que constituiu como um martírio que consumou os seus últimos dias; Dom Ronco, conhecendo bem tudo isto, ao telegrafar ao Vigário Geral de Acqui para apresentar-lhe as suas condolências, definiu o Marello um mártir da caridade.
(Notas para Conferência – outubro de 1921)
Artigo publicado em Marellianum N º 19 Jul-set/1996 pg. 12 e13
Tradução Pe. Dênis O . Paixão e Silva, OSJ