DEIXAR-SE CONDUZIR POR DEUS

DEIXAR-SE CONDUZIR POR DEUS


Pe. Antonio Geremia, OSJ


Todos os santos acabam por ter um denominador comum: o abandono em Deus.


Bennedetto Cottolengo é, por excelência, o “Santo da Providência”; mas Teresa di Lisieux não é a menos quando cogita viver a “pequena via”; nem Elisabete da Trindade fica para trás, quando escreve: “Naquele momento, quando tudo se confundia, quando o presente era assim doloroso e o futuro me parecia ainda mais escuro, fechava os olhos e me abandonava como uma criança nos braços daquele Pai que está nos céus”; nem Charles de Foucauld é amenos, ele que faz desabrochar do seu coração aquela oração tão simples e eloqüente: “ Meu Pai , abandono-me em Ti...”.


José Marello caminha nesta linha.


Possui desde o início de sua vida sacerdotal um tal “espírito de fé” que, desenvolvido com a graça e o exercício, chega a um total abandono em Deus.


Um abandono que tem a sua raiz teológica no fato incontestável que Deus é Pai e sempre Pai, e em qualquer circunstância Pai e nós somos filhos, sempre filhos, em qualquer circunstância filhos seus.


Escreve: “Quem está preocupado e cheio de ansiedade no agir, comete injúria a Deus e não diz o Pai-Nosso de coração. Aceitemos pura e simplesmente o que Deus nos manda, sem ansiedade e sem tristeza”. (C 23)


Um abandono que é infância espiritual: “Recomecemos, recomecemos de verdade. Invoquemos o Espírito Santo para que nos ilumine e caminhemos na presença de Deus com simplicidade da criancinha que se diverte à vontade diante dos olhares da mãe”. ( C 23)


Assim escrevia aos 25 anos, recém ordenado sacerdote, e nesta direção de paternidade divina e filiação nossa desenvolve e amadurece a sua espiritualidade de abandono em Deus, seja no trabalho sacerdotal na Diocese, seja como Fundador da Congregação, seja em aceitar, sucessivamente, a responsabilidade e as preocupações dos mais pobres da cidade de Asti.


Mas, onde, sobretudo brilha, no meu parecer, este “deixar-se conduzir por Deus”, é na ocasião de sua nomeação a Bispo de Acqui.Afinal em Asti o Marello estava em seu ambiente, era estimado e seguido e com a simples sua presença conduzia várias atividades.


A nomeação a Bispo, ao invés, foi para ele, do ponto de vista humano, certamente um choque: deixar repentinamente as muitas iniciativas, deixar, sobretudo, a pequena Congregação em formação, enfrentar um trabalho completamente novo... não era coisa simples..


Confidencia ele mesmo estes sentimentos íntimos seja ao Irmão Vittorio seja aos diocesanos no seu discurso de posse “De uma administração de uma pequena casa, que para governar a qual tinha dons apenas suficientes, fui elevado à honra do Episcopado! No rosto, tem sim a alegria, mas na alma o temor” (E 47).


Mas, dito isto, precisa notar rapidamente o seu imediato refugiar-se na confiança e abandono em Deus.


Tinha falado“Confiemos no bom Deus; mas seja a nossa confiança como aquela de uma criança sem tantos cálculos, sem muitos pensamentos... A nossa confiança em Deus deve ser bem como de uma criança, porque Deus nos ama muito mais que uma mãe. Vamos em frente, dia após dia, como Deus quer, e "Graças a Deus" por tudo o que ele dispõe”. (S 286), e agora, antes de partir para Roma para a sua consagração episcopal diz aos seus filhos na homilia:


“Não esteja eu, portanto, nesta manhã em ansiosa trepidação; não soe um lamento a mia voz como o brado de São Pedro: Salva-me, o Senhor! Não, provas demais já deu Jesus a esta casa de grande providência, de amor e de especial predileção, demonstrando a cada um de nós e a toda a casa de acolher benignamente as nossas orações, para que nós ousamos duvidar da força de seu braço nas nossas necessidades... Eu lanço-me confiante naquele mar no qual me quis a Vontade de Deus, mar bem mais vasto daquele no qual navegava nesta casa, seguro de estar com vocês...


Mas Deus dispôs de outra maneira e eu confio que Jesus será o timoneiro da minha barca; a minha alma repousa nesta certeza que o Senhor não me deixará faltar as graças necessárias para combater e vencer as tempestades que surgirão para turbar a tranqüilidade do coração’. (E 336)


Com este sentimento de abandono em Deus parte para Acqui em 16 de julho de 1889 e enfrenta a sua nova missão, convencido que: “O abandono total à Providência, constitui o mais algo grau de perfeição” (E 187).


Artigo publicado em Joseph 2/1987)
Tradução Pe. Mario Guinzoni, osj