Ferrucccio Corazzola
"De maneira espantosa e variada procura-se destruir o Reino de Deus; procuremos fazer em toda parte o nosso trabalho de restauração com a ajuda do Céu" (C.76).
Estamos na sociedade da comunicação. As notícias são captadas em tempo real: os meios de comunicação, para divulgáIas, competem até a reta de chegada para vencer a concorrência.
Sabe-se tudo sobre todos; isto pode ter também alguns aspectos positivos ao lado de tantos limites.
No entanto, paradoxalmente, e o constatamos todo dia, o homem é tremendamente solitário.
As passeatas, os estádios, talvez até mesmo as igrejas e as famílias absorvem milhões de solitários que não criam comunhão.
Os adolescentes e os jovens não encontram referências válidas aos seus problemas existenciais, as famílias são sobrecarregadas de responsabilidades, mas pouco ajudadas no discernimento dos valores; o idoso está sozinho em casa e constantemente confiado a estruturas até decentes, mas frequentemente "sem coração que as aqueçam" (B. Teresa de Calcutá). Este aspecto da sociedade é em grande parte determinado pelo frenesi das obras, que restringe os espaços do diálogo humano, necessário como o pão para uma sadia qualidade de vida.
Às vezes somos solitários ou deixamos solitários os outros porque falta o ministério da escuta.
Neste panorama, no entanto como honrosa exceção de comunhão, insere-se a figura do Marello: como todo santo, escuta Deus e escuta o homem.
Se desde jovem clérigo e sacerdote mantinha uma densa correspondência com os amigos, significa que sabia escutá-Ios.
Sente a necessidade de abrir o próprio coração e de acolher o segredo do coração amigo.
Mas a sua vida de sacerdote é iluminada por duas dimensões fundamentais que fazem da escuta inteligente e ativa um verdadeiro auxílio e conforto: o ministério da confissão e da direção espiritual. São dois aspectos, talvez hoje ofuscados, que podem ser terapia indireta também em nível humano.
Cotidianamente José Marello abria espaço em seu tempo para a direção espiritual no seminário e para as confissões na catedral.
Um dos primeiros discípulos do Marello, o Pe. Garberoglio, contava aos estudantes josefinos: "Quem saía de uma conversa ou de uma confissão com o Marello irradiava serenidade. Sentiase que era um padre que tocava!".
Muitos dos primeiros oblatos consideravam o confessionário como verdadeira clínica do espírito.
Dizia o Cardeal Ballestrero, pastor atento à caminhada da Igreja: "Se esvaziam os cibórios, se esvaziam os confessionários, mas o homem não parece melhorar e ser mais feliz".
Quando o homem se abre à luz e à misericórdia do Espírito, a sua vida muda.
Perto do Circo Máximo, em Roma, existe a Basílica de Santa Anastácia, uma igreja que desde o ano 2000 fica aberta 24 horas por dia para a adoração e oferece a possibilidade da confissão a quem deseja. Assim testemunha o reitor da basílica: "Quanto desespero a Eucaristia e o confessionário desta igreja tem sanado! Quantos solitários encontraram paz nesta basílica, às altas horas da noite, através de um confessor ou de um leigo que os acolheram".
Creio que cada discípulo do Marello, sacerdote ou leigo, sobre as pegadas do Pai, sinta que o tempo da escuta é dom que se transforma em ato de caridade teologal.
Artigo publicado em "Joseph", ano 83, n.2, fev.2004, p. 17.
Tradução: Pe. Roberto Agostinho, osj.